sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ferrari 412 P

Texto: Francis Castaings retirado do Bestcars Website

Desde sua estréia no final dos anos 40, a Ferrari sempre se mostrou vitoriosa e combativa. A casa de Maranello brilhou nas mãos dos melhores pilotos do mundo, como Juan Manuel Fangio, Lorenzo Bandini, Phil Hill e vários outros de quilate equivalente. Tanto os modelos de corrida quanto os de rua mostravam agressividade, potência, distinção, mas também linhas harmoniosas.

Aliando muita beleza e potência, no final de 1965 era anunciado pela imprensa o modelo 412 P. Apresentado em fevereiro de 1966, a designação da fábrica indicava 4,0 litros de cilindrada (exatos 3.967 cm3), 12 cilindros e P de protótipo. Substituía o Ferrari 330 P2, porém com um chassi tubular redesenhado (de aço e alumínio) e uma nova carroceria. Também ficou conhecido como P3. Em 1967 passava a ser designado pelo fabricante como P4.

O novo combatente das pistas seria destinado a equipes privadas: a competente suíça Scuderia Filipinetti, a americana NART, North American Racing Team, e a concessionária inglesa de nome Maranello disputaram com ele o concorridíssimo Campeonato Mundial de Marcas de protótipos esporte.

O P3 era um belo carro de corridas, de porte muito baixo -- apenas um metro de altura, 1,81 de largura e 4,18 de comprimento. Sua carroceria era toda em plástico reforçado com fibra-de-vidro, realçando linhas muito curvas e suaves. A berlinetta – como os italianos chamam os cupês, em um diminutivo de berlina, ou sedã – foi projetada pelo estúdio de carroceria de Piero Drogo, em Modena, na Itália.

O chassi, semimonocoque, era em painéis de alumínio rebitado. O desenho de sua carroceria influenciou vários projetistas da época. O pára-brisas era imenso, a visão lateral boa e a traseira critica, como convém a um carro de corridas da época. Pesava 850 kg, 100 kg a menos que o anterior.


Seu motor V12 central desenvolvia 400 cv a 8.000 rpm. O bloco e o cabeçote eram de alumínio e tinha duplo comando de válvulas no cabeçote, tração traseira e caixa de cinco marchas da marca alemã ZF, habituada a freqüentar diversas marcas de renome. Ao abrir-se o capô traseiro, toda a mecânica ficava à vista. Os freios a disco nas quatro rodas eram da marca Girling, muito renomada à época, e os pneus tinham as medidas 10/15-15 na frente e 12/15-15 atrás. O desenho dos cubos de rodas era também destaque de beleza.

Por dentro, como o regulamento exigia, havia dois lugares. O volante, de três raios e diâmetro pequeno, estava à direita, e a alavanca de marchas, com a tradicional grelha de alumínio, bem posicionada à esquerda. A instrumentação, no pequeno painel, continha apenas o necessário para a pilotagem. O estepe, como "ordenava" o regulamento, estava presente atrás dos 12 cilindros. Trazia um certo charme e era visível através do vidro traseiro.

Os primeiros testes foram feitos pelo piloto John Surtees visando a um evento no prestigiado autódromo de Monza, na Itália. Iria enfrentar verdadeiras feras no asfalto dos circuitos famosos e badalados da década de 60: os americanos Chaparral, Mirage e Ford GT 40 e o alemão Porsche 906. Uma batalha entre as marcas mais evidentes daquela época.

Sua velocidade final na famosa reta Hunaudiéres, em Le Mans, na França, foi de 330 km/h. A aceleração muito forte é comparável à de um esportivo de ponta de hoje, algo como 0 a 100 km/h em 4 segundos. O barulho vindo de trás era muito forte e emocionante. Na época a aerodinâmica era trabalhada para que os carros atingissem a maior velocidade possível em retas. Por isso, nas curvas a perícia do piloto era fundamental.


Após vários testes, os engenheiros da empresa italiana redesenharam o chassi para aumentar a rigidez torcional. Na temporada de estréia a primeira vitória aconteceu em casa, nos Mil Quilômetros de Monza, em 1966, pilotado por Mike Parkes e John Surtees. Este último, antigo campeão de motociclismo e mais tarde construtor de carros de Fórmula 1, bateu recordes debaixo de um temporal memorável. Em sua melhor volta obteve média de 189 km/h. Nessa prova os Fords GT 40 não conseguiram seguir os velozes carros italianos a Ferrari também ganhou em Spa-Francorchamps, na Bélgica, e sagrou-se campeã mundial de marcas.

Em 1967 a injeção Lucas dava lugar a seis carburadores Webber, e a câmara de combustão passava a ter três válvulas por cilindro. Estava mais potente, com 450 cv. O câmbio era substituído por um da casa, já que o ZF estava mal ajustado. O novo era mais preciso e as relações melhores. A equipe oficial agora entrava em cena, sob a batuta do competente e famoso Mauro Forghieri.

A suspensão, independente, havia sofrido alterações para usar pneus mais largos, visando a melhor estabilidade em curvas. A frente estava um pouco mais longa, o que melhorava a aerodinâmica. Foram inscritos em Daytona, nos EUA, em Monza, Spa, Le Mans, Targa Florio (modelo Spyder, sem teto, também chamado pelos italianos como Barchetta) e em Brands Hatch, na Inglaterra.

O Spyder P4 ganhou a 24 Horas de Daytona -- três carros da casa de Maranello chegaram nos primeiros lugares. Nos EUA, o carro da equipe NART tirou o terceiro, e os belgas ficaram com quarto em Monza. Em Targa Florio, também na Itália, dominou em quase todo o trajeto mas quase no final quebrou. Na Bélgica a corrida foi histórica, num dia de muita chuva. Foram inscritos os carros da equipe oficial e das três "estrangeiras".

Na largada, Ludovico Scarfiotti e Parkes (oficial) estavam ao lado do Chaparral da dupla Graham Hill e Mike Spence e do Mirage de Jacky Ickx e Alan Rees. O duelo entre todas as Ferraris (Willy Mairesse, Beurlys, Bianchi e Attwood) e seus concorrentes foi muito emocionante. Depois de várias disputas, batidas e abandonos, Beurlys, da Equipe Francorchamps, chegou em terceiro. 

Em Le Mans a Ford preparou uma verdadeira armada de GT 40. Nesta prova o P4 conseguiu o segundo lugar, com a dupla Ludovico Scarfiotti e Mike Parkes, e o terceiro com a equipe belga, com Willy Mairesse e Jean Blaton. A Ferrari não ganhou em Le Mans com este carro, mas levou o campeonato de construtores na categoria protótipo em 1967. Este foi o ultimo duelo entre estas marcas no famoso circuito francês.


O 412 P, ou P3/P4, foi um dos mais belos protótipos esporte já construídos pela Ferrari. Uma obra-prima sobre rodas. Se não foi grande campeão nas pistas, fora delas dava um show de estilo. Em agosto de 2000, em Pebble Beach, na Califórnia, onde se realizam tradicionais exposições e leilões de carros antigos, um P3 de 1966 foi vendido pela famosa casa inglesa Christie's por 5.616.000 dólares. Não faça a conversão, pois assusta...



All photos are property of their respective owners and are being used for entertainment only, non-lucrative purpose



Nenhum comentário: